Sinestesia


Estou carregado de inspiração, mas não sei como chover. Só quero chover para ti, para que as gotas caiam na tua face e te deslizem sobre o teu corpo, para me sentires. Imagina-te numa maresia tua, naquela casa, rodeados pelo frio, abraçados solenemente naquele toque que só nós sabemos. Ou então naquela cidade na lua cheia, iluminados pelo amor, o primeiro local destinado. Ou no teu sonho...ou em qualquer lugar. Sussura-me um desejo, um segredo o que fôr, que eu ponho neste verso o meu coração. Ouve...lá ao fundo o caminho perfeito, é a via da rosa, é o hino do amor que nos chama. Consegues ouvir? Toca...nesta suavidade da maré que nos afoga, consegues sentir? Vê...esta paixão que arde na vela do nosso pensamento, do nosso sonho, consegues ver? Cheira...este perfume que criei, um azul só teu, consegues cheirar? Saboreia...os meus lábios, quero-te!Consegues saborear? E o mais importante...sonha, sonha para que se realizem, sonha para que se desvaneçam num solene leito. Estás a ouvir agora? É o barco amarelo que nos vai levar. Vês agora? É o nosso nome que nos traçou. Cheiras agora? É o sangue derramado que nos completa. Sentes agora? É a nossa respiração mutua que nos eleva. Saboreias agora? É o fruto do nosso amor puro. No caminho, desde início tivemos uma sinestesia mutua, um critério de semelhança, uma escrita viva, um porto seguro, uma rocha moldada, um refugio criado, uma melodia que nos toca, as saudades que lembraram e as memórias que guardo. Naquele terraço aberto, no tempo trocado, na semelhança dos antepassados que nos albergam. Desde sempre sinto a alegoria criada, desde sempre que te olhei nos olhos, desde sempre.

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