Tramontana


Podes levar os dias que trouxeste.
Sem lugar, um homem cega pela janela, o mar que jura ter tocado com o sangue.
Podia ter sido o amor se não tivesse vindo tão directa,emte da sede, um duplo rosto, e os braços que saíram desertos, o eco da morte reverbera na pele com que veja a tua ausência encher as ruas. Um choro cai pela terra e nunca foi tão tarde ser depois.
Daqui onde o grito surdo incendeia, a refutação da madrugada, donde o crânio esmaga o coração, um homem conta pela janela a própria certeza de ter sido.

Não é tarde demais para uma manhã que foi a enterrar em tantas noites.

As escadas morreram de sede, a terra caiu em nunca.

Podes levar os dias que trouxeste.
Queria morrer contigo, não queria morrer de ti.
Contra o corpo limite do dia, arder tudo onde o tempo acabava, começar Deus onde era o fim. A noite tem a espessura, o medo abraça-me, a boca beija o batimento da terra.

E ainda é tão cedo para que morramos os dois.

Voo


Os teus sonhos de atravessar maresia

Vígio vazio para ser manhã

Os gritos roucos do coração lançando

Breve frio atado ao infinito

O sol das noites sorri à tua felicidade

Arde a mente nos lugares do corpo

Os abismos beijam-se

O tempo escorre de mãos dadas

As ondas embalam a infância

E surdem no silèncio, rasgadas as palavras

O peso eterno dos lençois de mármore

Traz-me berço à morte de estar vivo