Uma História


Abro os meus braços para o teu refúgio. Fico parado, entrego-me e deixo-me cair na tua vastidão que me engole a alma. A penumbra de memórias perde-se no meu génio humano que esclarece a invisibilidade da cura que me pegaste. Penetrou-me a magia deste local que se tornou meu intímo virtuoso de uma unidade omnisciente. Uma história conta-se nos confins do mar, uma história passa-se no teu lar, uma história que me ocupa por completoo meu elixir da vida.

Avô

Mal entro na casa sinto o cheiro pesado da dor quente misturado com a natureza morta. Ele esperava por nós, os ultimos, para o ultimo sorriso...fraqueja tudo, o seu ser tão generoso que eu vi o exemplo do próprio ser e na lua seguinte o Homem desceu sobre as colinas da simplicidade. Tudo chora, tudo lamenta, tudo abraça neste solene momento. Eu, sendo o mais novo sinto-me fraco ao ver esta tristeza, estava sem protecção e cada abraço ou gesto ou carinho que me era dirigido tornava-me mais forte. O mundo ficou mais pequeno e mais pobre, mas eu sei que ele está a ver-nos, o Sr. António Alexandre Chaveiro está a ver-nos.

Silêncio


É no silêncio que o desafio se concentra, é no silêncio que se escuta o tumulto.

Maresia Tua


Num começo de tarde um vaivem incessante de aves marítimas, forma-se ímpetuosas esperanças renascidas num promontório. Ao longe ouve-se um cântico marítimo e a ondulação pára para ouvir a ressonância do amor. Uma luz sombria e cintilante ergue-se e cresce invandindo o corpo apaixonado. No sussurar dos abetos adivinho a tua navegação solene e o cheiro exótico da paixão. Na falésia o vento rasa-me a cara lavando as falsas ideias e o frio matinal gela-me os ossos querendo mais desta suave dor veranil. Sobre o equilibrio e desiquilibrio das águas atravesso tempestades e na vaga e contra-vaga eu equilibro-me nunca desistindo. Uma veemência alegra-me no aflorar dos ecos e rumores do perpussar dos vumultos e dos reflexos do rio. Deslizo ao teu lado pairando no ar num infinito silêncio, pura transparência e uma felicidade sem nome foi muito que ultrapassámos para acordar numa manhã festiva. Numa noite de luar e calmaria com os nossos olhos postos no grande olhar masgnético da lua que corta a escuridão verás a perfeição unida. Estamos sentados num pequeno muro em frente a um cais onde marés se cruzam, as vozem deslizam no ar leve da noite enquanto respiramos um rosa negra. Quando estou sozinho oiço o cerimonial das vozes e o rumor da água e passo para além do próprio cismar em ti, o meu amor sobe à flor do mar.

Sonho


Se os teus sonhos estiverem nas nuvens, não te preocupes, pois estão no lugar certo; agora começa a construir os aliceres.

Elemento


De um elemento oiço o eco do pensamento. O teu espelhi no meu reflexo, o teu reflexo na minha água, a tua água no meu elemento. O magnânime pensamento apodera-se derramando em lágrimas de felicidade para o teu chão alquimista, que me transformou no mais puro sagrado segredo. O infinito é inválido na nossa demanda em que o sol nos olhou de frente e deu-te a mensagem ambígua. O vidro esquecido húmido trespassa-me o espaço vazio invísivel que só tu me ocupas.

Alcaide


Mal chego à aldeia sinto que a nostalgia salta-me do peito e a saudade rasga o meu corpo. O granito e o basalto escurecem a pequena aldeia, e o ar frio e pesado arrefece a mente do poeta, dando-lhe inspiração. Da janela o esplendor belo e simples, como a aldeia rodeada pelos montes, vales e serras. O imponente sino da igreja conta os costumes da população que roga a Deus com a máxima devoção. Mas esta aldeia algo de invulgar flutua no ar ofegante que congela os ossos. Não sei o que é, nem a própria população, mas altera a mente das pessoas e os sentidos tornando-os mágicos ao cair do sol e ao rajar do vento. A rustica calçada indica os caminhos da simplicidade e a velha praça silenciosa fala com os candeeiros gastos e enferrujados, trocando pensamentos. De manhã ao cantar do galo ou ao som do sino começa um novo dia, repetindo a calma, vezes sem conta.

Primaveril


Hoje passa o tempo sem te ver com as asas do tudo que voam para amanhã, renascendo uma tarde primaveril. Hoje é o sul do mar e o renascer de um novo dia. À tua boca erguida para a luz ou para a lua juntam-se petalas de um dia consumido. Não tenho o hoje porque diferente fui, sou e serei e em nome do meu amor proclamo a pureza.