Livre Comigo


Por vezes tens de te deixar levar. Voa, tira os pés do chão. Agarra-te a algo e sobrevoa todos os teus medos. Não terás vertigem. Não fiques parada, sentada à espera. Age, luta. Queres ir? Queres ficar? Podes ir, mas o meu porto é este, posso-me afogar, mas é o meu cais. O Navegador nunca deixa o seu barco. O escritor volta sempre para a terra natal ou para a praia final. Não vejas os teus demónios, não vejas só em frente dos teus olhos, olha à volta. Tanta coisa que nem o papel merece ser escrito. O Mundo está à espera que nasças outra vez, livre comigo.

Os olhos são eternos


Sentes os teus olhos?
São eternos.
Eternos na vida, não mudam, mas porém, com um olhar ou lágrima são imortais na paixão.
Os meus estão inundados.
Consegues sentir?
A minha tristeza derrama sobre o teu corpo?
Os olhos são eternos.
Através dos teus vejo os meus, reflexo de simetria, retrato de unidade.
Ou será ilusão?
Ou será simplesmente horizonte caído a meus pés?
Só nos olhos podemos ver tudo.
Os olhos são eternos

Surpresa


Estás na minha presença e de repente um escuro que me agrada e ruídos agrestes que não me permitem a audição. Para onde vou pergunto.Nesta ultima viagem. Não oiço nem vejo nada perante o deslocamento de mim. Tiram-me a venda...broto de lágrima...de repente todo o amor e a amizade explodem num momento.

Escrevo aqui, no meu leito nocturno a olhar para a minha almofada e vem-me tantas recordações. Aquelas primeiras de primeiro contacto contigo até ontem, ao toque toque dos corpos.

Terra


Voltaste para a tua Terra. Esta já não brota sem ti. És a primavera que todos os bichos anseiam. As passagens do tempo não voam, são seguidas pelos sinais, finos e delicados do teu corpo. Não vás nunca mais sem mim. A espera fria e escura revela os fantasmas que ficam guardados quando não estás. Este sonho está vivo, vestígios de noite, os nossos corpos no chão, são vestígios de ti. Numa vaga de sentimentos podemos ver o fundo do olhar. Vou crescendo...apanhando todas as pétulas do dia e da noite. Numa noite haverá a loucura dos corpos, próximos, do paradoxo distância virei e aparecerei em vestígios de ti, na tua rua, na tua janela. Entro nas portas andantes que vão a inumeros lugares, obrigado por me acolheres na viagem.

Em Frente


Quero ter o mesmo sonho outra vez, o único em que acordo e estou vivo. Estou a nadar no teu mar e eu sinto as ondas acalmarem-me, suavemente na maresia que me leva à tua maré. Vou em frente. Vou em frente no verso. Amarra-te a mim, num planeta fora de vista, de natureza embriagada e alta. Corpo e alma imortal. Vejo-te numa lente de telescópio crepuscular,a luz de ter ver me breve. Assim como as quatro paredes nos fechem, entre janelas de pura luz lunar. Tudo o que está morto deverá ser cultivado. Aqui estamos. Com cada semente nossa, cada traço teu, puro como ouro;e recito isto em voz alta, grito para o horizonte. Corro para ti. Caem-me gotas que me encharcam a alma, mas de que vale isso perante a unidade? O que vale uma pequena gota perante a imensidão do teu mar?