Olhar


Se eu pudesse caminhar com palavras tuas, se eu podesse falar-te, se tu pudesses ver-me se eu pudesse olhar. Nenhum impulso de escrita emerge do ilimite vazio. Se escrevo ou falo ainda é porque o sinto. Se olho, se prossigo sei que a minha sede não é vã, onde estou é na tua rua. Onde estás é além de todo o encontro. E se escrevo, é porque talvez espere avançar entre os meus muros, para um sinal que ilumine esta estrada. Se eu pudesse falar-te através destas palavras, se tu pudesses ver-me se eu te pudesse olhar.

Reencontro


É no reencontro que se descobre. É no reencontro de palavras que se volta a lembrar. É no reencontro que aquela ausência indiferente passa a correspondência presente. Mas também se descobre. Descobre-se na música, na paz de espírito e depois quer-se mais. Não ficamos indiferentes ao reencontro. Aquele rosto nos era conhecido torna-se mais forte, mais presente. Contam-se memórias e desabafos. Histórias e curiosidades, numa tarde, numa noite. Descobre-se elementos tão importantes da nossa vida. Mas sem que, lentamente algo mais se despolete. Torna-se gradual e constante. Até que surge o já esperado desse reencontro. Trocam-se perfumes e músicas. Mas...não se vive o antes do reencontro. E por mais que seja forte, o antes vem sempre antes do depois. Percebo a força do antes. Sem que não queira que venha o depois...Encosto-me então na tua rua, como se tivesse à espera de outro teu reencontro.

Eis o Lugar


Sinto a perfeição de um corpo e nos seus olhos perpassa um pouco o medo. O medo de ser O Desconhecido, de ficarmos esquecidos na eternidade...Serei eu que tu vês? Quem me abraçou outro dia não é já quem me abraça? Sinto o não e o sim-A inflexão da noite. Vivo à superfície de um corpo negro e fundo. O amplexo é real e o que escrevo é a falta de algo que me completa. Porque é tudo tão breve e tão longo, não sei. Tenho os os olhos fechados de abertos de ternura. Eis o lugar em que o centro se abre, onde sentimos a verdadeira ausência.