Presença Ausência



Chamo-te chamo-te ao rés da terra. Um grito mudo que só eu consigo ouvir. Não és o rosto da sombra do corpo, chamo-te pelo que vivemos sem saber se te chamo ou se escrevo apenas a sombra do que fomos. Se te encontrasse, dizia não saber quem tu eras...mesmo antes de ti e de o Amor existir. Desde sempre foste o esplendor, unidade sobre unidade. Porque estas palavras, estas sombras, estes gritos de confissão. Dou-te um lugar agora...onde só te vejas. É egoísta deixar-te ir agora, mas querer que voltes. Sem que...sem que tanto fora prometido. Sem que podéssemos sentir-nos, por dentro e verdadeiramente por fora. Sem o pecado carnal. Saber que estarías ai...Os papeis invertem-se...agora percebo. E todavia chamo-te na ténue pulsação destas palavras, como pálpebras de areia, chamo-te sem saber se te vejo, se ainda existes para aquém ou além destas palavras. É esta presença ausência. Não sei já quem tu és, se tens um corpo, se escrever é perder-te ainda mais... se caminho em vão ou se te encontro, se já te achei e te acho a cada passo.

Aqui



Se eu pudesse caminhar com palavras lentas sóbrias, e se eu pudesse falar-te ou gritar como um vento selvagem, se tu pudesses ver-me e eu te pudesse olhar neste momento. Aqui, onde escrevo e nad principia, ond eo embate é nulo, onde se cerra o muro, onde a ferida não fala. Nenhum impulso emrge do ilimte vazio, nenhum punho se ergue entre as pregas do abismo. E todavia se escrevo é porque talvez espere avançar entre os muros para uma praia secreta, que um sinal ilumine este deserto de cinza, que uma pergunta abale este bloco inamovível. Fui eu que enterrei o meu nome sob a pedra. Tudo em mim foi ausência ou um contacto vão. Por isso, neste momento, não nos vemos. Mas se eu te escrevo ainda estas palavras, estas palavras escondidas. Não será um caminho, uma forma de grito? Aqui onde escrevo, algo principia. Aqui o embate contra um bloco negro. Aqui se abre um muro, aqui a ferida fala.

Silêncio



Nesse momento a sombra foi uma ferida, o espaço de tempo uma defesa, e o silêncio foi na sombra o esplendor porque o nome teu era o domínio que só no silêncio encontrara a face. Nada se abria, rasgu-se lentamente a alguém foi em mim, não sei quem fui eu, que em palavras a mais no intervalo surgiu. Não se perdeu, para sempre o nome em nós sofria, o nome do lábio do silêncio.