Voz da Infância


Sou agora menos eu. E os sonhos que sonhara ter, acordaram em teu leito. Que me dera acontecer essa morte, de que não se morre. Porque em tempos perdi a audácia do meu próprio destino, saltando a ânsia. E agora sinto. Sofro do que não sofri. E anoiteço, vivendo na vida os erros que me desertaram. Ofereço o mar que em mim se abre à viagem mil vezes adiada. De quando em quando me perco e de mim me desencontro, como se o eco das mãos e a casa dos gestos, me olhassem com todos os olhos opacos e vazios. Assim me debruço. Sobre a janela e escolho a minha própria neblina que me permite ouvir o leve respirar das pequenas coisas sepultadas em silêncio. E eu invento o que escrevo, escrevendo para me inventar e tudo me acorda, porque tudo desperta a secreta voz da infância.

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