Carta aos amigos mortos


Eis que morrestes, agora já não bate o vosso coração cujo bater dava ritmo e esperança ao meu viver. Agora estais perdidos para mim-o olhar não atravessa essa distância-Nem irei procurar-vos pois não sou Orpheu, tendo escolhido para mim estar presente aqui onde estou vivo. Eu vos desejo paz nesse caminho fora do mundo que respiro e vivo. Porém aqui eu escolhi viver. Nada me resta senão país de dor e incerteza. Aqui eu escolhi permancer, onde a visão é dura e mais dificil. Aqui me resra apenas fazer frente ao rosto sujo do ódio e da injustiça. A lucidez me serve para ver. A cidade a cair por muro e as faces a morrerem uma a uma. E a morte que me conta, ela me ensina que o sinal do Homem não é uma coluna. E eu vos peço por este amor cortado, que vos lembreis de mim lá onde o amor já não pode morrer sem ser quebrado. Que o vosso coração que já não bate, o tempo denso de sangue e de saudade, nos vive a perfeição da claridade. Se compadeça de mim e de meu pranto. Se compadeça de mim e de meu canto.

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