Um Pouco De...


Tudo é atravessado por um rio de memórias, e brisas subtis e lentas se cruzam. E enquanto lá fora baloiçam, a saudade invade o quarto. Pairo no espaço vazio à contra-luz que desliza torturamente no meu corpo. Pára devagar entre cantos escuros, durante um longo momento transpõe a tua imagem em memórias tuas. O tempo não é dissolvido, mas dura, e em cada instante ressoa-me como um beijo perdido. De cima a baixo se descobre ao transpor o limiar sagrado da tua falta. Sinto...Estou e num breve instante sinto, sinto-me tudo até ao longo...Respiro até à exaustão. Nada me alimenta. Eleva-se o meu coração sem peso como a desamparada pluma. Na distância que percorro eu mudo de ser, permuto de existência. E no avesso das palavras, na contrária face da minha solidão eu te amei e acaraciei o teu imperceptível crescer como carne da lua nos nocturnos lábios entreabertos. E amei-te sem saberes. Amei-te sem o saber. Amando de te procurar. No contorno do fogo desenhei o teu rosto e para te reconhecer mudei de corpo, troquei de noites e juntei crepusculo e alvorada. Para me acostumar agora à tua ausência. E o sangue derramado fora de mim, procorou o teu coração primeiro.

1 comentários:

Antônio Moura disse...

... econtrar a si mesmo no olhar alheio é recriar o primeiro encontro com o olhar de quem primeiro cuidou de nossas necessidades. Perder esse olhar é crescer e partir rumo a novas paisagens.