Tudo é atravessado por um rio de memórias, e brisas subtis e lentas se cruzam. E enquanto lá fora baloiçam, a saudade invade o quarto. Pairo no espaço vazio à contra-luz que desliza torturamente no meu corpo. Pára devagar entre cantos escuros, durante um longo momento transpõe a tua imagem em memórias tuas. O tempo não é dissolvido, mas dura, e em cada instante ressoa-me como um beijo perdido. De cima a baixo se descobre ao transpor o limiar sagrado da tua falta. Sinto...Estou e num breve instante sinto, sinto-me tudo até ao longo...Respiro até à exaustão. Nada me alimenta. Eleva-se o meu coração sem peso como a desamparada pluma. Na distância que percorro eu mudo de ser, permuto de existência. E no avesso das palavras, na contrária face da minha solidão eu te amei e acaraciei o teu imperceptível crescer como carne da lua nos nocturnos lábios entreabertos. E amei-te sem saberes. Amei-te sem o saber. Amando de te procurar. No contorno do fogo desenhei o teu rosto e para te reconhecer mudei de corpo, troquei de noites e juntei crepusculo e alvorada. Para me acostumar agora à tua ausência. E o sangue derramado fora de mim, procorou o teu coração primeiro.
Companheiros
Quero escrever-me de homem
Quero calçar-me de terra
Quero ser
A estrada marinha
Que nos segue depois do último caminho
E quando ficar sem mim
Não terei escrito
Senão por vós
Irmãos de um sonho
Por vós
Que não sereis derrotados
Deixo-vos
A paciência dos rios
A idade dos livros que não desfolham
Mas não levo
Mapa nem bússola
Porque andei sempre
Sobre meus pés
E doeu-me às vezes viver
Hei-de inventar
Um verso que vos faça justiça
Por agora
Basta o arco-iris
Em que vos sonha
Basta-me saber que viveis
Por viverdes de menos
Mas que permaneceis sem preço
Companheiros
Quero calçar-me de terra
Quero ser
A estrada marinha
Que nos segue depois do último caminho
E quando ficar sem mim
Não terei escrito
Senão por vós
Irmãos de um sonho
Por vós
Que não sereis derrotados
Deixo-vos
A paciência dos rios
A idade dos livros que não desfolham
Mas não levo
Mapa nem bússola
Porque andei sempre
Sobre meus pés
E doeu-me às vezes viver
Hei-de inventar
Um verso que vos faça justiça
Por agora
Basta o arco-iris
Em que vos sonha
Basta-me saber que viveis
Por viverdes de menos
Mas que permaneceis sem preço
Companheiros
Súbito
Fui sabendo de mim por aquilo que perdia. Pedaços que saíram de mim com o mistério de serem muitos e perceber o verdadeiro valor só quando os perco. Fui ficando por céus aquém do passo que nunca ousei. À ternura pouca que me vou acostumando enquanto me adeio servente de danos e enganos. Vou perdendo memória na súbita lentidão de um destino que me vai sendo escasso.
Ânsia
Não me deixem tranquilo
Não me guardem segredo
Eu quero a ânsia da onda
O eterno rebentar da espuma
As horas são-me escassas:
Doi-me o tempo
Ainda que não o mereça
Que eu quero
Ter outra vez
Idades que nunca tive
Eu e a vida
Nessa dença desencontrada
Como se de corpos
Tivéssemos trocado
Para morrer vivendo
Não me guardem segredo
Eu quero a ânsia da onda
O eterno rebentar da espuma
As horas são-me escassas:
Doi-me o tempo
Ainda que não o mereça
Que eu quero
Ter outra vez
Idades que nunca tive
Eu e a vida
Nessa dença desencontrada
Como se de corpos
Tivéssemos trocado
Para morrer vivendo
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