Grito ao Amor


Mas agora estou no intervalo em que toda a sombra é fria e todo o sangue é puro. Escrevo para não viver sem espaço, para que o corpo não morra na sombra fria. Sou a pobreza ilimitada de uma página. Sou um corpo abandonado. A margem sem respiração. Mas o corpo jamais cessa, o corpo sabe a ciência certa da navegação no espaço, o corpo abre-se ao dia, círculo do próprio dia, o corpo pode vencer a fria sombra da noite. Todas as palavras se iluminam ao lume certo do corpo que se despe, todas as palavras ficam nuas na tua sombra ardente. É urgente o amor. Agora. Espontâneo e mutuo. Para que a pobreza enriqueça em infinitas páginas, para que o corpo abandonado se torne fértil e dê frutos, para que a margem se respiração se torne oceano e nade até à tona da água para poder encher os pulmões de ar, para gritar bem alto a nossa Unidade.

0 comentários: