Lux Aeterna


Entro naquele ignóbil casarão. O Outuno rodeia-me e quando abro a porta sinto o respirar velho do passado nas paredes feitas de madeira velha. Ao longo dos corredores ermos, os espectros daquela casa sussuram ao meu ouvido. Oiço os meus próprios passos ecoarem naquele tecto enorme feito de castiçais que a pouca luz que deixam entrar, transformam em escuridão. Um estranho cheiro entranha-se nas narinas perdendo o nosso próprio olfacto. Paro. Fico vazio naquela imensidão de madeira nua que me ressoa agora a uma toada de lenda. Aproximo-me da única janela da casa. Negra com ornamentos de gárgula e acabados em marmore verde escuro. Não se vê nada. Apenas o nevoeiro nocturno que baça a rua. Então de repente, oiço uma melodia aguda, distante. Subo as escadas simétricas em caracol, sobre o castiçal de inúmeras velas e o som fica mais próximo, cada vez mais próximo. Já nem oiço os meus passos, os ecos desvanecem-se no sotão. Vou ter ao quarto antigo e o agudo som vinha de uma caixa de múscia, a única coisa pura naquela escuridão negra.

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